11/03/2011

John vs Lennon

Eu me interesso enormemente por assuntos de bastidores, pelo lado B, pelas curiosidades (quem leu os posts sobre o serendipitoso Gay Talese e o produtor-galã Bob Evans já deve ter percebido isso). Pois são justamente essas nuances que orbitam em torno de uma pessoa ou fato que os tornam mais interessantes.
Se você gosta de John Lennon ou minimamente se interessa pelos Beatles deve assistir “O Garoto de Liverpool” e “Os EUA vs John Lennon”.
    John fresh + Lennon ativista = mesma essência

Em “O Garoto de Liverpool” vemos um John fresh, cheio de sonhos, impulsividade, carências e angústias. Um pote de açúcar, sensibilidade afloradíssima, puro afeto. Gênio. O filme retrata um pedacinho crucial de sua vida que forjou o John adulto: o reencontro com sua mãe biológica e a relação edipiana que se estabelece entre os dois e vai permear sua obra; o laço fortíssimo com sua tia Mimi, sua mãe de criação pulso firme que lhe põe rédeas e oferece aconchego (a sua maneira, bastante dura); o grande encontro com Paul. Mas não espere ouvir falar sobre Beatles, pois o máximo que você vai conseguir ver são os ensaios da prematura The Quarry Men, embrião dos Beatles. Inclusive, numa passagem bastante espirituosa, quando John avisa que vai sair em turnê com a nova banda, sua tia Mimi diz algo como “ah, você vai viajar com a sua banda...como é mesmo o nome?”.  Pontos para o casting que escolheu  Kristin Scott Thomas, impecável como tia Mimi, e Aaron Johnson, que encarnou o papel de maneira tão passional me fazendo acreditar ser ele o próprio John, mesmo não tendo nenhuma semelhança física  (certamente na linha de produção do céu, Aaron entrou na fila do charme umas 10 vezes).

Corta a cena, fast forward. 
“Os EUA vs John Lennon” é um documentário sobre o Lennon ativista político, pós Beatles, totalmente Yoko mas, principalmente, o John de sempre. Todas as características essenciais, do frescor a genialidade, continuam vivas ali. Vê-se um Lennon que soube usar muito bem suas qualidades a favor dos seus objetivos, mobilizando pessoas através de seu carisma e sua veia midiática. Porém, o foco do filme é a conspiração do governo Nixon, coligado com Hoover (FBI),  para deportar Lennon dos Estados Unidos. Eles amedrontaram o quanto puderam o “coitado”, através de perseguições, escutas telefônicas e o diabo a quatro. Mas Lennon saiu dessa com louvor nos tribunais, para poucos anos depois ser assassinado por um maluco (será? Olha a teoria da conspiração...). Espremendo a laranja, o que ficou pra mim: Lennon manteve intacto seu espírito destemido, sua fé nas próprias convicções e o coração de açúcar. E Yoko não é a bruxa que pintam.
Tudo isso me fez lembrar o já manjado, porém lindo, discurso de Steve Jobs (sim, aquele para os formandos de Stanford). Tem um trecho que me toca de maneira muito especial e tem tudo a ver com a historinha aqui contada. Ele fala da trajetória dele e como algumas decisões tomadas, aparentemente descabidas, fizeram todo sentido anos depois. No caso de Jobs ele fala sobre as aulas eletivas de caligrafia que fez simplesmente porque tinha vontade, ora bolas! Pois bem, graças a isso o Mac foi o primeiro computador com tipografia bonita, tamanhos diferentes e espaçamento proporcional. E ele conclui: “Claro que é impossível conectar os pontos olhando pra frente quando eu estava na faculdade. Mas ficou muito, muito claro olhando pra trás dez anos depois. De novo: você não pode conectar os pontos olhando adiante, você só pode conectá-los olhando pra trás. Então você tem que confiar que os pontos de algum jeito vão se conectar em seu futuro. Você tem que acreditar em algo: seu Deus, destino, vida, karma, seja o que for. Porque acreditar que os pontos vão se ligar em algum momento vai te dar confiança para seguir seu coração, mesmo que te leve para um caminho diferente do previsto e isso fará toda diferença”. Salve Jobs!
E o que isso tem a ver com John? Se ele não tivesse buscado sua mãe biológica, que teoricamente o abandonou (assunto controverso), ele não teria se envolvido com música, conhecido o banjo,  insistido no violão. E tudo aquilo que parecia fuga sem propósito, virou motivação e trouxe John até o Lennon que seria deportado. Não fosse a música ele seria brilhante em outra coisa, pois estamos falando de um gênio. Mas que bom que foi através do violão, do encontro com Paul, dos Beatles que ele nos presenteou. E no final das contas a historinha de Jobs sobre conectar os pontos é uma grande lição para todos nós: follow your heart.

Por Júlia Sobral


Vá lá:

O Garoto de Liverpool

 


Os EUA vs John Lennon


Discurso de Jobs




3 comentários:

  1. não sou a leitora de blogs que costuma deixar comentários, mas tenho que dizer que estou bastante feliz com a descoberta do achadas e perdidas!

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  2. E como uma coisa leva a outra e estamos falando em lado B, nas historias e depoimentos que nos faz redescobrir e admirar ainda mais aquele idolo, segue a minha sugestao (que nao foi pedida mas vou dar assim mesmo): The Pixar Story. Para quem gosta do bastidores e suas tramas esse documentario eh um prato cheio, se gostar da Pixar e seus filmes eh um banquete!!!!
    Ah e para ligar mais um ponto com o post acima no documentario vemos Jobs comprando, se tornando o CEO da Pixar e sempre se desentendendo com o CEO da Disney!
    Vale conferir que desenho animado nao eh mais coisa soh de crianca!
    http://www.youtube.com/watch?v=aU1fVeYzYlI

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  3. Candida, seja bem vinda! Ficamos felizes que tenha gostado e esperamos que continue nos visitando, pois adoramos compartilhar nossos achados :)

    Maricota, AMEI a dica. Eu (Júlia) preciso assistir pra ontem!

    Bjs

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