Fuga ao tema: presença constante nos meus textos. Se fosse uma redação para vestibular, justificaria um zero. Ironia para mim, que sou redatora. Mas ao inferno com o tema: se eu escrevo para fugir de mim, dos meus demônios, do meu corpo, soltar minha alma no espaço e desabafar meus gritos mudos, se eu consigo fugir do mundo inteiro que existe ao redor escrevendo, por que não posso fugir dele também? Ele que me alcance, se puder! Mas vai precisar ser rápido, isso eu garanto.
Me incomoda realmente esse apego que as pessoas têm ao tema. Até porque, eu não sei sobre o que vou escrever quando vou escrever. Você sabe? Então você faz carta, monólogo, descrição.
Eu não. Eu faço diálogo. Entre eu e meu melhor e mais antigo amigo, desde os tempos onde eu nem conhecia as letras do alfabeto ainda: o papel. É tão simples! Eu pergunto, jogo minhas dúvidas em cima dele, e ele vai me respondendo uma por uma. Basta ler com calma o que ele tem a me dizer. Você não sabe falar a língua do papel? Ora meu caro, foi para isso que foram feitos lápis e canetas. E mais recentemente, o teclado. São as teclas SAP da comunicação pessoa-papel. E que comunicação. De repente, eu leio o final do que eu mesma escrevi (ledo engano, eu fui apenas o instrumento do papel) e digo: “ah, então era isso...”
Viu aí? Fugi do tema novamente. Talvez eu tema o tema (com esse nome, é sugestivo). Mas que culpa tenho eu se ele nunca me alcança? Talvez no dia em que ele me alcançar é porque estarei cansada demais para escrever. Ou para ousar. Mas note que ao menos desta vez, o início e o fim do meu texto falam sobre a mesma coisa. Ninguém pode acusá-lo de ser um texto sem pé nem cabeça. Agora, o que vem entre o pé e a cabeça, é outra história. Ou melhor, outro tema.
Por Paula Martins
Por Paula Martins
Mais legal ainda é ler hoje, o que foi escrito há um tempo.
ResponderExcluirÁs vezes descobrimos depois de anos, o que realmente queríamos dizer com aquilo, que parecia ser outra coisa no momento em que escrevemos.