28/04/2011

Vai chover pingos de amor.

Dia de chuva é sempre um bom dia pra fazer alguma coisa. Para uns, dia de não sair debaixo do edredom. Para outros, dia de namorar. Dia de cinema, de não ver a luz do dia, de chocolate quente, de tomar banho de chuva (por que não?), de chegar atrasado, de arrumar o quarto, de perder o juízo, de dormir mais 5.437 minutinhos, de ouvir o barulhinho gostoso na janela.


Para mim, particularmente, chuva é para ler. E assim, de tanto ler em dias chuvosos, descobri que para quase todo escritor, chuva é para escrever. 
Pingos de nostalgia? Gotas de romance? Trovoadas esclarecedoras?
Pouco importa. A única certeza é que chuva inspira. E molha.

“Chuva... Tenho tristeza! Mas por quê?! Vento... Tenho saudades! Mas de quê?!” – Florbela Espanca

“Sempre que chove tudo faz tanto tempo... E qualquer poema que acaso eu escreva vem sempre datado de 1779!” – Mario Quintana

“Nas tardes de chuva, bordando com um grupo de amigas na varanda das begônias, perdia o fio da conversa e uma lágrima de saudade lhe salgava o céu da boca.” – Gabriel García Márquez

“Em casa há muita paz por um domingo assim. A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai... Esqueço-me de quem sou para sentir-me pai. E ouço na sala, num silêncio uno e sem fim, um relógio bater, e outro dentro de mim...” – Vinicius de Moraes

“Em que idioma cai a chuva sobre cidades dolorosas?” – Pablo Neruda

“É maravilhosa como um dia de sol em meio a um verão chuvoso.” – Hermann Hesse

“Vai chover muito. No jardim que se esboroa de secura, cada folha suplica uma gota d’água. Os passarinhos só fecham os olhos, antes que o sol lhes seque o pingo líquido dos olhos. As cigarras crepitam, queimadas sobre os troncos ardentes. Sai o halo do fogo de dentro das pedras. Não há nada a fazer, senão descair como as lânguidas palmas. Esperar que seja possível a vida.” – Cecília Meireles

“O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam. Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça, bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiabada-com-queijo.” – Clarice Lispector

Por Paula Martins

Um comentário:

  1. "que a chuva caia como uma luva, um dilúvio, um delírio / que a chuva traga alívio imediato..." - Humberto Gessinger

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