27/01/2011

Manifesto dos bem resolvidos.



Os “bem resolvidos” são espécie em devoção.
Cultuados, aplaudidos, invejados.
Solicitados, necessários.
Salvadores e terapeutas.


Em terra de gente esquizo, ser sensato é dádiva.
Em tempo de tantas turbulências, ser forte é extraterreno.
Em um mundo fluido, transitório, de relações descartáveis e sonhos tão altos e livres, os bem resolvidos são eixo, olhar confiante, pés firmes no chão (mesmo em seus eventuais surtos).

Protegidos com uma super capa anti-dor, combativos com suas armaduras afiadas e sempre de prontidão, equipados com um kit magyver de mil e uma soluções.

Mas o que parece céu de cupcake, tem seus tormentos.
Os efeitos colaterais são intensos, deixam marcas e carregam defeitinhos de fabricação. Tornam os celebrados BR (vamos chamar assim, pessoal?) chatos, sobrecarregados, míopes e envaidecidos.

Ninguém lembra-sente-importa-interessa. Mas os BR também sofrem, se fragilizam, enfraquecem. São de carne e osso. Têm suas carências, neuroses, dores e fossas. A energia doada ao mundo faz falta. As armaduras trazem solidão profunda. E mistérios tão íntimos que nem o próprio bicho BR é capaz de decifrar.

Por Melina Romariz

4 comentários:

  1. tem uma letra nossa que acho que tem tudo a ver com isso aí: SUPERFÍCIE: Sim está tudo bem, eu estou feliz e todos também / Sim, está tudo ok, agora é assim é a nova lei // O sucesso é uma imagem, incerteza é palavrão / o amor na tatuagem, em silêncio o coração // Sim está tudo 10, da boca pra fora, da cabeça aos pés / Sim, está tudo legal, na cara, na lata, no álbum virtual // Logo acima do tapete, peças de decoração / Cá na superfície enfeite, mas há poeira no porão // Um mergulho em águas rasas, medo de não ter pulmão // Mas um dia cai a casa e vem à tona o porão. Legal o texto, Bjos

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  2. A gente tem é que se livrar da culpa e da angústia de sempre buscar ser BR. A vida é cheia de desequilíbrios e antagonismos: pra ser bom, há que se conhecer o mau; pra ser feliz, precisamos conhecer o sofrimento; como conquistar a auto-confiança sem entender que carências, neuroses e angústias aparecem de vez em quando? Nos mares da nossa vida, legal mesmo é ser BR consciente de que sempre há algo a ser resolvido.

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  3. Pra dizer a verdade verdadeira, eu nem consigo imaginar como seria um BR – de tão longe que estou de ser uma. Muito menos achar que conheço um - nunca fui apresentada, e sozinha é que eu não ia achar, afinal, sou da turminha dos MR com quem os BR não devem querer se misturar. Aliás, peraí, tenho lá minhas dúvidas se esses sujeitos existem mesmo. Num mundo doido desse, cheio de coisa estranha acontecendo o tempo todo, alguém que não tem angústias, medos e preocupações, esse sim tá doido ou é completamente alienado! Mesmo quem tem a vida aparentemente toda no lugar, tem muita coisa com o que se preocupar lá fora, não? Tô achando que os MR estão melhor que os supostamente BR, mais conscientes pelo menos.

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  4. Eu convivo com um BR,aliás, sobrevivo com um.Acho que quando Deus criou o homem e usou uma vértebra de Adão para criar a mulher, havia uma pequena pedra que êle jogou para cima e criou o BR.Só êle o que é certo e sendo feito de uma pedra parece insensível.Descobrí que de forma bem escondida existe tristeza, frustração e lágrimas!Acreditem! Êle ama música clássica e
    fomos passar uns dias na Alemanhae visitamos a
    casa onde Mozart morou.Em determinado momento tocou uma música e notei que êle estava chorando de emoção.BR parecia perdido quando na verdade foi achado.

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