10/01/2011

Matou o Terapeuta e foi ao Cinema

Licença para ser Má*


Ultimamente eu tenho tido pesadelos terríveis. Um divã enfiando uma faca em todos os corações do mundo.
A terapia hoje em dia virou quase um commoditie. Numa mesa de bar, numa rodinha de amigos, o bicho estranho deixou de ser quem faz e passou a ser aquela pessoa terrível, atormentada e cheia de problemas que não faz terapia, coitada.
Pois hoje eu quero gastar minha licença para ser má dizendo que NÃO, EU NÃO FAÇO TERAPIA. Aliás, eu quero ser muito mais má do que isso- não é isso que vocês terapeutas querem, que nós sejamos sinceros, que mostremos nosso lado negro? Pois bem, agüentem o meu: eu não apenas não faço terapia, como odeio terapeutas. Sabe por quê? Porque se dependesse dos terapeutas, vá por mim: nenhuma grande história de amor teria existido. Chamem de terapeutas, analistas, psicólogos. Eu os chamo por Love Storys Serial Killers.
Troque a bancada pelo divã, e visualize a seguinte cena:
- Julieta, você já se questionou se o que sente por esse rapaz, Romeu, é amor de verdade, ou apenas uma tentativa de chamar a atenção do seu pai, sempre atarefado com a luta de poderes na sociedade e que nunca deu a atenção que a filha gostaria? Complexo de Édipo, Julieta, Complexo de Édipo.
Discorde quem quiser, mas desconfio de que nessa versão, com uma Julieta assídua às suas sessões de terapia, Shakespeare não teria alcançado a sua imortalidade.
O problema dos terapeutas é que estão sempre pedindo cautela nas relações. Vá com calma. Não pise no acelerador. Nada de excessos. Nada de excessos. Nada de excessos. E esqueceram que essa doutrina gerou um excesso de relacionamentos sem romance, sem gosto, sem sal, sem pimenta. Um excesso de gente bem resolvida, bem analisada, bem chata, isso sim. Um excesso de gente que não mereceria nem o papel de coadjuvante num romancezinho meia boca vendido em banca de revista.
Se dependesse dos terapeutas, não teríamos as Julietas, nem as Ferminas, nem as Clementines, nem as Ilsas. E o que é pior: também não teríamos os Romeus, os Florentinos, os Joels e muito menos os Ricks. Ou você acha que um homem que elabora bem o final dos seus relacionamentos seria capaz de disser “We will always have Paris”?
E sabe o que um terapeuta diria dessa minha teoria? Eu sei. Ele diria: “Você está citando apenas personagens. A vida real não é como nos filmes, não é como nos livros.” Não é uma ova. Não somos nós, as pessoas, que escrevemos os livros? Não somos nós que inventamos os filmes? Pois bem, também somos nós que podemos nos apaixonar da maneira que bem entendemos, ter capítulos de vida formados de amores ardentes, e viver películas de paixões sofridas, e ser irracional, e acreditar, e querer excesso, e sentir, sentir, sentir, SENTIR MUITO.
Por isso terapeutas, podem guardar os baldes de água fria e realidade para vocês. Comigo não vai funcionar. Vou é tomar minha pílula azul e continuar aqui na Matrix mesmo.

Por Paula Martins

*Licença para ser Má: Sim, nós somos pura positividade, ainda acreditamos na humanidade, somos a favor da sustentabilidade, paramos na faixa de pedestre, sonhamos com a paz mundial e separamos nosso lixo para reciclagem. Mas todo mundo tem seu lado escuro- e o nosso implora que o levemos para tomar um banho de sol de vez em quando. Em outras palavras: é nesse espaço que temos licença para ser má, muito má, má de malvada. E continuar sendo pessoas do bem fora dele. Hauahauahauahauah (risada de bruxa maligna).

8 comentários:

  1. Já estava ansiosa para ler um post de "Licença para ser Má" (precipitadamente meu tag favorido)!!
    E começou bem, na verdade muito bem!!
    Agora exercendo a minha licença de ser má aqui também e sendo neta de terapeuta: não seria Complexo de Electra, Julieta???? Ahhh essa minha mania de correção, nenhum divã deu conta! Haha
    Adorei, Paulinha!!!

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  2. concordo em gênero, número e grau.
    to achando que esse tag será o meu preferido!

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  3. gente, que engraçado! não tinha visto o comentário de cima! tá vendo como as pessoas querem ter licenças para ser más hoje em dia?

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  4. Meninas! Adorei o novo post e já vi que seria leitora assídua do blog!
    Com relação a discussão em questão, a terapia, eu acho que sim pode ser de grande valia, mas nessa vida o que vale mesmo é o equilíbrio de cada um. Equilíbrio até pra saber o momento de mandar a terapia pra PQP e desequilibrar! Equilíbrio para identificar que a terapeuta tá muito careta e que nessa noite você quer passar dos limites, ou melhor, perder os limites!
    Como disse Elizabeth Gilbert em Comer, amar e rezar (e eu nao sou adepta a auto-ajuda), "Sometimes losing your balance for love, is part of living a balanced life."
    Bjocas as 3 e parábens pelo novo projeto!
    Muito sucesso
    Joana

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  5. Li esta frase num site de um músico admirado: "Na briga entre a cabeça e o coração, o coração sempre vence, porque a cabeça é mais sensata e desiste de lutar". Ou seja, não vamos superestimar a terapia. Belo texto, parabéns.

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  6. Adorei o texto, embora discorde dele. Ja pensou que o processo terapeutico pode ser exatamente o contrario disso? Pode ser “Nao planeje tanto…”, “Nao analise tanto…”, “Nao se cobre tanto…” e “Viva mais!”, “Se arrisque mais!”. Terapia nao eh um pacotinho que vc abre ja sabendo o que tem dentro… e nem eh soh pra quem mergulha de cabeca, tmb serve pros mto controladores, mto exigentes, perfeccionistas, inseguros, medrosos e comedidos. E do jeito que a coisa anda, mais facil achar gente precisando de um empurraozinho pra exceder do que pra pisar no freio. De qq forma, amei o dialogo da Julieta com o terapeuta, excelente!
    Parabens ao trio!
    Fe

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  7. Pessoas, super obrigada por terem gostado do "licença para ser má" e do texto, concordando com ele ou não. O bom é que aqui nessa seção, além de licença para ser má, todo mundo tem licença para descordar tb! (e até mesmo licença para para corrigir a autora, ne dona mariana?? rsrs).
    A partir de agora, vcs só não tem licença é para não voltarem sempre!!! ;)

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  8. kkkk Comentario atrasado vale? So li seu post agora. Muito legal, mas como Fernanda, eu discordo.
    Terapeuta previsivel sao os limitados e mediocres. O que mais vejo e o que fala "se jogue" ou o que te tira as culpas quando vc enfia o pe na jaca. Ótimo! kkkkk
    E alem do mais, to fora de ser Julieta e morrer no final. Deixa isso pros livros. Quero finais felizes.
    Amei o "I'm a living proof it doesn't work".
    Paulinha vc arraza nos textos!!!!

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