Esse post tem caráter de esclarecimento público: Timbalada é uma coisa e axé outra. Nada contra o axé (não mesmo!), mas me sinto obrigada a colocar os pingos nos is, cada macaco no seu galho, ado a-ado cada um no seu quadrado.
Antes de entrar no x da questão, deixe-me contar uma historinha. Lá pelos idos de 1993 algo mudou no meu repertório musical. Era um domingo clássico baiano: sol, maresia e um pai, que mora em Brasília há anos, ávido por praia. No caminho ele sacou uma fita cassete e me disse “prepare-se para ouvir o som que vai mudar a música baiana” (não me perguntem onde arranjou, em Brasília é que não foi). Batuques enlouquecidos e a letra mais nonsense invadiram os meus ouvidos: “Eu canto pra lua porque amo a lua, ai que lua, ai que lua, ai que lua, ai que lua / eu canto pra terra, porque amo a terra, ai que terra, ai que terra, ai que terra/ tiquititáááááá / pãpãpã pananananã vai! pananananã vai!”. Aquilo era a coisa mais louca, vibrante e primata (óbvio que aos 12 anos eu devo ter pensado em outros termos, mas vá lá) que eu já tinha escutado. Meu pai e Nostradamus ali ó, fazendo suas profecias.
Olho de Thundera, dê-me a visão além do alcance! (Foto por @carlessolís)
Por trás desse movimento está um gênio que atende por Carlinhos Brown. Além de compositor inspiradíssimo e artista mil e uma utilidades, ele tem o olho de Thundera, ousado que só. Brown teve a brilhante idéia de criar o Candyall Guetho Square, que foi a Neverland de alguns verões soteropolitanos. Um reduto timbaleiro incrustado no meio da comunidade do Candeal, com acesso por ruelas de barro, cercado por casinhas pobrinhas com as melhores “varandas-camarotes”, palco central e peles coloridas. Foi lá que surgiu a famosa volta do Guetho, fervilhante, misturada e suada, regada a muita sorveróska de cajá e umbu (meu Deus, preciso patentear isso! Para os que não conhecem, é sorvete de fruta batido com vodka, uh lalá!).
O Guetho se foi, mas Brown não nos deixou na mão. Fomos presenteados com o Museu du Ritmo, onde hoje rolam os ensaios da Timbalada e o Sarau du Brown, a festa mais incrível do verão soteropolitano. É tão difícil falar sobre o Sarau, só vendo pra crer. Um lugar em ruínas, uma arena a céu aberto, uma festa comandada por um Brown que resgata e afirma com muito amor a cultura afro. E aqui volto a essência desse post: Timbalada não é axé. É percussão, é batida afro, é banho de pipoca, é obaluê, é patrimônio histórico da Bahia. Mas se é Bahia, é que nem coração de mãe. Cabe axé, cabe pop, cabe rock, cabe forró...que o digam todos os convidados que batem ponto por lá: Toni Garrido, Nando Reis, Falcão, Ivete, Roberta Sá, Pepeu Gomes e por aí vai.
Mas vamos deixar de lero lero e ir direto ao ponto. Vamos dar a volta no Ritmo? Garanto muita serotonina e economia de alguns bons reais com terapia.
Recomendação: vá de tênis, por favor. Não faça que nem Nanda, nossa mascote, que saiu da volta assim:
Depoimento da perdida: “Vi o vídeo, rs. Passou um filme na minha cabeça, eu louca atrás da minha sandália, quando de repente... mudou de lado e a multidão veio pra cima de mim”.
E tendo dito!
Por Júlia Sobral
Nada como uma volta no Guetho para nos tirar do "piloto automático" e colocar todas as emoções para suar! Só de lembrar das histórias, e daquele tumtumtum que começa da ponta do dedão do pé e vai subindo pelo corpo... ui! E meu apoio total e solidário a Nanda, eu também não passei no teste da sandália na minha primeira vez!
ResponderExcluirIsabella Abalos
sarau pra mim vai ser sempre a confirmação de que é verão, somos felizes e um momento com amigos/música/energia boa pode durar eternamente.
ResponderExcluirvai faltar você no próximoooooooooo!
Nada melhor do que uma boa música para expressar o inexprimível, depois do silêncio, claro!
ResponderExcluirSarau é muito booom, música boa, gente bacana e uma energia sem igual, até para um flamingo como eu! rsrs
Pior do que perder a sandália.. foi achar outra do meu mesmo pé e mesmo tamanho, e por fim.. me desfazer também desta achada! Unbelievable!! Conspiração total para manter meus 'pés no chão'! rsrs
Descrição perfeita dos domingos de Candeal Gueto Square. Claro que naquele tempo o ingresso não era tão caro, o que nos levava quase todos os domingos pra lá.
ResponderExcluirAquele chão pintado de verde que colava e deixava a sandália toda imunda.
Quantas voltas dadas naquele guetto, hein...
Seu pai é que tinha razão...Salve Brown!
Amei a lembrança!
Bjos Ciu
Ai que saudade da Bahia meu Deus... ô terra boa!Julinha, vem me buscar!
ResponderExcluirAi, Jú, que inveja de vc que está no verão de Salvador... SAUDADE da minha TERRA DE TODOS OS SANTOS e MUITA saudade do Guetho. Love
ResponderExcluirfalou e disse: timbalada não é axé, brown é um gênio, o guetho foi uma neverland e o sarau é A festa! beijo, ju!
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